quinta-feira, outubro 16, 2014

Porque o BES teve de falir

Há muito que estou calado mas depois de ver partes do Prós e Contras apeteceu-me vir aqui colocar um desabafo acerca do BES.

Sendo curto e grosso, a situação financeira da Europa é a seguinte: enquanto nos EUA há uma enorme fiscalização da atividade financeira, na Europa isso não acontecia, os Bancos Centrais estavam ao serviço das entidades financeiras e o que elas controlavam era os cheques sem cobertura, os clientes, não era a atividade dos bancos. Em consequência, o buraco financeiro na Europa é incomensurável, muito maior que o dos EUA e capaz de engolir o Euro. Sei que isto custa a acreditar mas lembrem-se de que não há muito foi descoberto que 6 dos maiores bancos, com o Deutsche à cabeça, andaram a manipular a Euribor; quando se chega a este ponto, todas as especulações imagináveis já foram feitas.

Como resolver este problema sem que se saiba? Por que no dia em que isto for público, o Euro afunda-se como as acções do BES.

Começaram com a teoria da Austeridade – ir buscar aos bolsos das pessoas todo o dinheiro possível. Estando o grande problema nos grandes bancos, nomeadamente nos alemães, foram buscar o dinheiro aos bolsos dos outros, naturalmente, e fizeram correr rios de dinheiro para a Alemanha. Dinheiro e ouro, é claro.

Entretanto, o BCE tem estado a imprimir muitas centenas de milhões de euros anualmente para “emprestadar” aos bancos. Isso tem permitido aguentar o problema mas não chega, até porque as políticas de austeridade tiveram consequências mais danosas para a produção de riqueza do que o previsto por falta de previsão; além disso, se há atividade que sofra com a austeridade é precisamente a bancária (como referi num post anterior, em que disse que a continuação desta política iria levar à falência de toda a banca nacional), porque qualquer crescimento da taxa de incumprimento tem consequências desastrosas na banca (o factor multiplicativo do dinheiro que multiplica o ganho dos juros, também multiplica o peso das perdas.. parece que se esqueceram disso…). O BCE precisa de produzir dezenas de milhões de milhões de euros (dezenas de biliões em português ou de triliões na escala anglo-saxónica). Mas como fazê-lo sem lançar o alarme nos mercados, sem desvalorizar fortemente o Euro?

Que tal recorrer à mesma técnica que usam os EUA quando precisam de fazer uma guerra num lado qualquer do mundo: primeiro, um incidente local, um “ataque terrorista”, com estragos adequados à dimensão do ato de guerra pretendido?  esse “ataque” vai justificar essa guerra.

Neste caso, fazer falir o BES era uma solução. Penso que foi um ato deliberado do BCE, que para isso exigiu a devolução imediata de 10 mil milhões de euros que estavam “emprestadados”. Claro que não iam fazer falir um banco dos “deles”, nem iam fazer isso na Grécia porque os gregos não são tolos: a sua arena é Portugal.

Em seguida o BCE já pode anunciar que vai imprimir até mil milhões de euros; não creio, penso que vai imprimir muito mais do que isso, mas não se pode saber. E ministro da Finanças alemães vem dizer que está contra; não está nada, penso que ele é que estará por detrás dessa medida, essencial para salvar os bancos alemães. E os espanhóis.

Perceberam que somos o “saco de porrada” da Europa? Não podiam ser os Gregos, porque esses mordem, e os restantes são grandes demais.

Convém que se perceba bem outra coisa: o BCE, o Banco de Portugal, os Bancos antes centrais, não prestam contas do que fazem a absolutamente ninguém. O ridículo é de tal ordem que o Governo nomeia auditores ao Banco de Portugal mas estes… não têm de prestar contas ao Governo!!!! O BCE imprime o dinheiro que entende e distribui-o como entende, aos bancos que entende, em montantes fabulosos. Ao pé disto, os orçamentos comunitários, os subsídios europeus, etc, são gotas de água, movimentos insignificantes de dinheiro comparados com as verbas que o BCE movimenta sem dar contas a ninguém. Neste quadro, a democracia europeia é uma piada – é como se vivêssemos numa ditadura onde apenas pudéssemos eleger as juntas de freguesia, porque essa é a escala entre os poderes dos Governos e do BCE.  

Não foi o Cavaco nem o Passos quem enganou os investidores; eles também foram enganados. Foi o BCE, para salvar os bancos dos outros sacrificando uns peões; uns peões que somos nós.

Uma última nota: o BES era muito mais do que uma instituição financeira, era um grande grupo económico; no caso do BPN, o governo socialista salvou o grupo económico tanto quanto pode; no caso do BES vai "arder" tudo.


terça-feira, maio 13, 2014

Está no Papo!


Este é um post que leva 3 minutos a ler - o tempo de um clip do youtube. Mas são 3 minutos que podem esclarecer várias coisas cruciais. Simplifiquei a exposição, o que pode pôr os cabelos em pé aos especialistas; mas para ser exato precisaria de 300 páginas e não de 3 minutos.

1 - A crise financeira

Mão amiga fez-me chegar a notícia deste livro: 




Este livro é um sucesso súbito nas vendas da Amazon, está no Top!

E porque essa pessoa me enviou o link? Porque esse livro expõe aquilo que eu já disse há muito tempo: que o crescimento da fortuna dos ricos acima do crescimento do PIB asfixia a economia porque necessariamente implica o empobrecimento de uma parte crescente da população. Para resolver o problema o autor do livro propõe uma taxa de 80% sobre os ricos.

Ele viu bem o problema mas a solução que propõe parece difícil de aceitar; embora seja algo no sentido do que a França está a fazer.

Este problema não é novo; o que é novo é alguém o expor ao “povo”.

O problema não existia dantes: e por isso, até há umas décadas, toda a população enriqueceu, o que está a servir para os opositores de Thomas Piketty dizerem que ele está errado, que o “sistema” tem funcionado bem; mas não está, o que acontece é que antes havia uma grande diferença no funcionamento da sociedade.

Como já expus em vários posts, o sistema liberal tende fatalmente para uma desigualdade crescente que reduz progressivamente o fluxo económico e acaba por o asfixiar, se não existir um mecanismo de compensação que redistribua a riqueza. O ponto crítico é quando o crescimento de riqueza dos 20% mais ricos ultrapassa o crescimento do PIB, pois esse é o ponto em que o empobrecimento dos povos começa – até aí, vão enriquecendo todos, embora uns mais do que os outros (a realidade é mais complexa, mas isto é o essencial). Esse ponto crítico, esta "linha vermelha", foi ultrapassado, no ocidente, no começo deste século.

O que os economistas dos EUA pensaram então foi desenvolver uma economia dos Ricos: deixar cair parte da população na pobreza e criar um fluxo económico só entre os ricos, baseado em produtos de luxo – foi quando as grandes instituições financeiras andaram a fazer a apologia da plutocracia. A Alemanha pensou uma coisa diferente: aproveitar o empobrecimento para ter mão de obra barata para o fabrico de produtos de exportação para o resto do mundo, onde, ao contrário do ocidente, o mercado é crescente e a população está toda a enriquecer – daí a teoria da re-industrialização da Europa. A Alemanha tinha condições únicas para isso porque numa democracia não se pode ter mais de metade da população a empobrecer; porém, a Alemanha pode ter a população de grande parte da Europa a empobrecer desde que só uma minoria dos alemães empobreça porque quem governa a Alemanha governa a Europa. Apesar de ter eleições, a Comunidade Europeia não é uma Democracia. O sistema europeu equivale a um sistema político em que o primeiro-ministro é quem for mais rico e tem como objetivo de governação maximizar a sua riqueza pessoal.

Quem manda na Europa não é a Merkel? Votámos nela? Ela defende os nossos interesses, é responsável por nós?

Eu disse atrás que este problema do empobrecimento dos povos não existia dantes; nem dantes nem existe em parte nenhuma do mundo exceto nos países Ocidentais. Porquê?

Há um mecanismo eficiente de compensação do crescimento da desigualdade económica: O Banco Central vai imprimindo dinheiro à medida que a Economia cresce e entrega este dinheiro ao Estado, que o introduz na Economia “por baixo”: em obras públicas, na promoção da igualdade de oportunidades, na investigação científica e tecnológica, na cultura, nas artes, nos apoios sociais. Desta forma, e dependendo do montante de dinheiro novo impresso, se limita o ganho dos ricos por desvalorização da moeda e se aumenta o dinheiro no bolso dos outros. Assim, todos vão ficando mais ricos. Claro que isto não chega, havia muitas outras medidas para controlo do crescimento da desigualdade que foram abolidas com a Globalização, pois cada país passou a querer ter as pessoas e as empresas mais ricas para melhor competirem à escala global.

Compreendamos: antes da Globalização, o crescimento da economia dos grandes países dependia do mercado interno e, logo, combater o crescimento da desigualdade era imperioso; depois da Globalização, os grandes países quiseram ter as empresas mais fortes no mundo e o crescimento da desigualdade passou a ser um objetivo e não um problema.

Como é que este mecanismo de o dinheiro novo ser injetado “por baixo” se degradou?

A atividade bancária tem riscos, que foram agravados pela liberalização e globalização da economia – neste mundo em competição algo selvagem, a taxa de insucesso empresarial aumenta. Para cobrir estes riscos, os juros não podem ser baixos. Ora o preço do dinheiro é uma condicionante fundamental da competitividade. Então a solução para aumentar a competitividade global das empresas foi o Banco Central usar o dinheiro novo para cobrir o crédito mal-parado. Com este “chapéu de chuva”, os juros caíram. Por outro lado, o Banco Central passou a emprestar (em vez de dar, de forma mais ou menos camuflada) o dinheiro novo ao Estado, que passou a ter uma dívida ao Banco Central e que vencia juros. Isto, porém, é uma dívida virtual porque o Estado é o dono do Banco Central: os juros que paga recebe de volta como lucros do banco, e a dívida não é para amortizar, é meramente contabilística. É por isso que o Japão tem uma dívida pública de 250% do PIB e essa dívida não é problema nenhum para o Japão.

Este processo teve, porém, uma grave consequência colateral; os banqueiros rapidamente descobriram que facilmente engordavam as suas contas pessoais em offshores através das comissões que recebiam para empréstimos e investimentos inviáveis. No fundo, o que se passou é que o dinheiro novo impresso pelo Banco Central deixou de ir para o Estado e passou a ir para as habilidosas mãos dos financeiros. O mecanismo fundamental de redistribuição de riqueza deixou de existir, foi parcialmente apropriado pelos ricos.

Esta é a génese da crise financeira: o investimento altamente especulativo e ruinoso dos financeiros, que enriqueceu os financeiros e empobreceu a restante população; e que estoirou quando as pessoas, por terem empobrecido, deixaram de alimentar a especulação.

2- A Crise do Euro

A crise do Euro é algo de muito diferente, não tem nada a ver com a crise financeira mas é algo que se soma a ela. Em que consiste?

A quantidade de dinheiro novo que um Banco Central imprime está limitada pela desvalorização da moeda; com o Euro põe-se o problema de saber como é que o banco central de cada país do euro pode imprimir dinheiro novo, uma vez que com o euro esse equilíbrio entre produção de moeda e desvalorização desaparece: os benefícios vão todos para quem imprime e os prejuízos para todos os países do euro. Havia que estabelecer regras sobre a quantidade de dinheiro novo que podia entrar na economia de cada país. Em vez disso, optou-se por uma solução simples e radical: o BCE é que imprime e está proibido de financiar qualquer Estado. Assim se evitaram infindáveis discussões sobre o que cabe a cada um.

Burrice!

Os espertos banqueiros viram imediatamente aqui uma oportunidade de ouro: sem o suporte do Banco Central, os Estados do Euro ficavam completamente à mercê dos juros que lhes exigissem. Criaram-se logo aplicações e fundos para especular com as dívidas soberanos dos países que não tinham como fugir, os quais garantiam aos seus subscritores juros elevados. O ataque começou no dia em que entrou em vigor o Tratado de Lisboa. Foi um ataque planeado com antecedência e eu sei disso com certeza absoluta porque fui convidado para ele, por isso não me contem histórias da carochinha nem me digam que foram os "mercados" - os ganhos já estavam calculados antes do ataque começar. A CRISE DAS DÍVIDAS SOBERANAS FOI UMA MANOBRA ESPECULATIVA DA BANCA, PURA E SIMPLES, E NÃO TEM NADA A VER COM CONTAS PUBLICAS OU COM A CRISE FINANCEIRA.

Porque é que esta manobra se tornou possível de repente?

Porque os países europeus deixaram de ter moeda própria. Moeda própria está indissociavelmente ligada ao controlo do Banco Central. Nós não trocamos a nossa moeda própria pelo euro – nós deixamos de ter moeda! Isto é assim porque não temos qualquer controlo sobre o BCE, o qual está inclusivamente proibido de fazer a função mais importante do Banco Central, que é defender a economia do país.

(aqui tenho uma dúvida: será que isto foi tudo preparado politicamente para destruir os estados europeus, de modo a transformá-los em protetorados alemães? Porque razão se apressou o Durão Barroso em vir ao Euronews afirmar que a crise das dívidas soberanas era global quando sabia perfeitamente que era exclusiva dos países europeus? Porque é que ele quis esconder que se tratava de um problema europeu?)

Com o Tratado de Lisboa, na prática, o que se passou é que passamos a usar como moeda o marco alemão, rebatizado de “euro” – uma moeda e um banco central ao serviço dos interesses da Alemanha.

Melhor seria adotarmos o dólar – de certeza que o Fed não permitiria estes ataques especulativos.

Deixo a ideia: aderirmos ao Dólar! Se é para prescindirmos de ter moeda, antes o dólar do que o marco

A europa do norte têm propositadamente tentado confundir o ataque especulativo com a crise financeira, porque eles estão a beneficiar do ataque. Não nos deixemos enganar: só os países do Euro têm o problema da dívida soberana. A crise financeira, ao contrário, é um problema da Banca, não é dos Estados – só é dos Estados porque estes são chamados a resolvê-la.

Compreendamos pois claramente quais são os problemas. Eles são 3, a saber:

1 – por se terem degradado os mecanismos de combate ao crescimento da desigualdade, esta atingiu um ponto em que a maioria da população começou a empobrecer; este empobrecimento estrangula o fluxo económico e faz a economia entrar em recessão;

2 – os banqueiros andaram a enriquecer ilicitamente através de processos especulativos e investimentos ruinosos e que eram escondidos em aplicações imobiliárias e “produtos complexos”; estes processos, como qualquer esquema de “pirâmide”, estoiraram quando as pessoas, por terem empobrecido, deixaram de os poder alimentar, colocando o sistema financeiro em estado de falência;

3- os países do Euro são os únicos no Mundo que não têm o suporte do Banco Central para a sua moeda própria e, em consequência, tornaram-se vítimas de um processo especulativo organizado pelos banqueiros com a mesma eficiência com que organizaram os outros processos especulativos todos.


Os EUA só têm os dois primeiros problemas e estão a resolvê-los da forma básica: imprimindo muito dinheiro para 1 - colocar nos bolsos do povo, e 2 - tapar os buracos bancários. Imagino que paralelamente tenham mudado os processos de fiscalização bancária mas ainda não vi que tenham alterado o sistema de redistribuição de riqueza; mas como o mandato do Fed é para maximizar o crescimento da economia e este só é possível combatendo a desigualdade, cedo ou tarde chegarão lá. Para já, estão a tratar os sintomas da doença, sem terem verdadeiramente atacado a doença.

Na Europa, a Alemanha viu nisto uma oportunidade de ouro para os seus objetivos de dominação europeia e obtenção de mão-de-obra barata (viu ou criou?). Que outra coisa podia fazer a Alemanha senão aproveitar? A Merkel é chanceler da Alemanha, não da Europa. A culpa não é da Alemanha, é do sistema europeu – este é que tem de ser mudado, isto é o que os deputados europeus deviam ter defendido mas não fizeram, por incompetência e por estarem ao serviço dos financeiros – o PSD (e similares europeus) é o partido da Banca, defende os interesses dos financeiros. (solidariedade é um conceito mais ou menos inexistente nos povos do norte; acham que cada um tem obrigação de saber defender os seus interesses).

3 - Vamos às Soluções

Como é que se resolve o problema europeu? É coisa transcendente, muito complicado?
Nada disso, é facílimo, tão fácil como resolver os outros dois.
Há várias soluções mas a que me parece mais simples é o BCE emprestar aos Estados nas mesmas condições em que está a emprestar à Banca – com uma taxa de juro de 0,25%, como têm os bancos, passávamos a ter um saldo de uns 5% nas contas públicas. Isto para já, porque depois é preciso ir mais longe, para colocar os estados europeus em igualdade de condições com os outros países cujo banco central é o financiador do Estado. (claro que não é tão simples assim, é preciso impôr limites; mas bastaria que o BCE financiasse a dívida até ao montante que se considera "saudável" de 60% do PIB; ou até à percentagem da dívida alemã, para colocar os países em situação semelhante pois, como se sabe, os "mercados" não se atrevem a cobrar juros à Alemanha pois se o fizerem logo as regras mudarão).

Claro que esta solução acabava com esta “galinha dos ovos de ouro” da Banca; por isso, enquanto a Europa estiver dominada pelos partidos da Banca, ela nunca acontecerá (a não ser que a Merkel o decida). Note-se que esta "galinha dos ovos de ouro" é uma miragem, a ideia de que a economia europeia pode prescindir do mercado interno é uma burrice e, logo, também os bancos europeus empobrecerão com os europeus)

Percebe-se como estas eleições europeias são importantes para a Banca. É por isso que os juros baixaram – não por causa de haver muita liquidez e outras pseudo-explicações que os “especialistas” dão. Os economistas de serviço querem sempre passar a ideia de que o sistema financeiro é impessoal, depende de grandes leis económicas mas não é nada disso – depende do interesse e das manipulações de um número muito pequeno de pessoas, os tais “credores” que são tão poucos que dá para renegociar com eles as dívidas ou para eles imporem condições.

O atual caminho é suicidário para nós. Se os portugueses já empobreceram uns 20% com esta política, isso significa uma redução igual na massa coletável (os ricos não pagam impostos; mesmo a classe média alta foge facilmente). Qualquer ideia de equilibrar as contas públicas com este caminho é pura miragem – podem reduzir o défice num ano à custa de um “brutal aumento de impostos” e um “brutal corte nas funções do Estado” mas no ano seguinte isso vai-se refletir numa “brutal redução da massa coletável” e consequente redução das receitas do Estado. E os juros da dívida estarão sempre colocados no nível de estrangulamento. O empobrecimento dos povos determina o fatal empobrecimento dos Estados.

A ideia dos banqueiros é só uma; acabar com os Estados. Querem o dinheirinho todo para eles.

A Humanidade viveu quase sempre dividida entre os senhores que tudo tinham e os povos que nada tinham. Apenas durante curtos períodos houve surtos de desenvolvimento, e sempre decorrentes de Estados fortes. Enfraquecendo o Estado, voltaremos a ter de comer sopa de erva porque o Estado é a organização dos povos, os ricos apenas precisam de uma polícia para defender os seus interesses, não precisam de um Estado.

4 - Que Fazer?

O cidadão comum não pode apontar o dedo aos políticos ou aos banqueiros; isto está tudo legitimado pelo voto. Quando se elege a raposa para guardar a capoeira…

A raposa anda agora empenhadíssima em convencer as galinhas a escolherem-na novamente para guardar o galinheiro, certa que está que as galinhas são estúpidas como portas. E nem precisa de convencer muitas: mesmo que a abstenção seja de só 40%, só precisa de 30% dos votos para a maioria absoluta; e quase 20% são garantidos, são os dos que enriquecem com o empobrecimento dos outros 80%. Portanto, só precisa de convencer aí 10% das galinhas. Está no papo.

terça-feira, março 25, 2014

O porquê da centralização da fiscalização bancária na Europa

Desculpem os leitores mas apeteceu-me escrever agora um texto muito rápido, só para dizer uma coisa muito curtinha.

Anda tudo para aí muito satisfeito com o facto de a União Europeia ir finalmente concentrar no BCE os mecanismos de fiscalização bancária, algo que há muito já deveria ter sido feito, dizem.

De facto, deveria; mas não foi, e não é por acaso que não foi; e agora é, e não é por as instituições e os deputados europeus terem finalmente feito o que já deveriam ter feito.

O que acontece é que a crise financeira vai chegar agora aos grandes bancos europeus.

A crise financeira (que não tem nada a ver com a crise das dívidas soberanas, que é a consequência direta do Tratado de Lisboa) resulta de o enriquecimento bancário se ter feito através de processos especulativos que estoiraram quando as pessoas, por efeito desses mesmos processos que aumentaram a desigualdade, começaram a empobrecer - a especulação alimenta-se do enriquecimento das vítimas, se estas empobrecem, morre. Os bancos pequenos não tinham como fugir às consequências da crise e estoiraram; mas os bancos grandes estão exatamente na mesma situação, ou pior, porque a sua capacidade especulativa é muito maior.

Eu já escrevi há anos que o Deutsche Bank deve ter um buraco tão grande que a Lua cabe lá dentro; até agora, têm conseguido esconder esse buraco, mas isso não vai durar muito mais; e quando ele estoirar, quem o vai assumir? A Alemanha vai fazer o mesmo que Portugal fez?

Claro que não! A Alemanha vai chutar o problema para a Europa, para o BCE, para nós!!!

Nós ainda vamos ter de contribuir para tapar o buraco do banco da Alemanha. Já estamos a contribuir, este processo das dívidas soberanos está a ser usado para tapar esse buraco à nossa custa; mas não chega, é preciso mais, muito mais.

Portanto, já sabem: o processo em curso, o trabalho apresentado pela Elisa Ferreira, não é o resultado da ação dos deputados em defesa da Europa, é o resultado da ação das instituições europeias ao serviço da Alemanha.

domingo, fevereiro 23, 2014

A Austeridade é fatal para os Bancos



Eu já aqui disse e repito: uma política de Austeridade vai ser fatal para a banca nacional.

Relembro o que foi que desencadeou a crise financeira: o empobrecimento das pessoas. Este empobrecimento foi a consequência necessária de o crescimento da riqueza dos ricos se ter tornado superior ao crescimento total da riqueza, o que implica que passou a alimentar-se do empobrecimento dos não-ricos.

Claro que havia os produtos tóxicos e etc, mas isso tudo só estoirou porque as pessoas deixaram de ter dinheiro para os alimentar - foi aí que eles se tornaram "tóxicos", antes disso eram fantásticos...

A banca tem dois tipos de atividade: a dita de retalho e a dita de investimento. A primeira vive de explorar as necessidades das pessoas (empréstimos), a segunda de explorar a ganância das pessoas (aplicações financeiras, bolsa).

Claro que o processo de emprestar e reemprestar sempre o mesmo dinheiro parece uma forma excelente de ganhar dinheiro – se para cada euro depositado puderem emprestar 10 euros (andavam a emprestar 30 antes da crise), o que ganham em juros em cada empréstimo é multiplicado por 10 para obter a rendibilidade do capital – um juro médio de 5% rende 50% num ano. Parece uma galinha dos ovos de ouro mas não é bem assim, porque é preciso subtrair o crédito mal parado – e o peso deste no resultado final também é enorme: 1 caso de incumprimento nesses 10 empréstimos gera um prejuízo de 50% num ano. Ou seja, uma pequena taxa de crédito mal parado faz passar de um lucro bestial para um prejuízo abissal. Portanto, basta uma pequena flutuação na taxa de incumprimento para fazer este negócio passar de grandes lucros para grandes prejuízos

Os incumprimentos são inerentes ao processo: se um banco empresta a uma empresa para ela aumentar a sua competitividade e empresta igualmente à empresa concorrente, nenhuma aumenta o volume de vendas nem os lucros e ambas ficam sem meios para pagar o juro dos empréstimos; ou então uma é bem sucedida e a outra abre falência, não pagando o empréstimo. Ou seja, qualquer novo empréstimo bancário a uma empresa contem a perspetiva de fazer falhar outro empréstimo. O balanço de toda esta atividade é ditado pela evolução da economia: se esta melhorar, a taxa de incumprimento desce e vice-versa.

. Claro que o processo não é assim tão linear, os bancos têm alternativas, como seja ficarem donos de todas as empresas de um setor e estabelecerem um monopólio disfarçado, que é o que está a acontecer nas grandes áreas de atividade. Só que isso é para os grandes bancos, não é para os bancos nacionais.

Ouvimos dizer que a economia está a melhorar pois as exportações estão a crescer. É ótimo que as exportações cresçam mas não são elas que marcam a economia - o que marca é o mercado interno.

A crise financeira nos EUA não rebentou por as exportações dos EUA estarem a descer - foi porque os americanos estavam a empobrecer. E a solução não foi empobrecê-los mais, foi enriquecer aos americanos. Os americanos não implementaram uma política de austeridade, fizeram o contrário.

Se nos EUA é assim, em Portugal muito mais, porque os nossos bancos não têm dimensão internacional, eles vivem do mercado interno.

Repito o que já disse: ou os bancos nacionais se juntam todos para financiar o Estado e pôr travão numa política de Austeridade que consiste apenas em tirar dinheiro às pessoas, ou vão ficar em muito maus lençóis. A ganância de quererem ganhar dinheiro com a dívida soberana vai arruiná-los em vez de salva-los.


domingo, fevereiro 16, 2014

Como pode o Estado financiar-se a 1%


O Estado colocou recentemente dívida a 10 anos a mais de 5% ao ano; e colocou dívida a 1 ano a 0.86% ao ano; e a 6 meses a uma taxa ainda mais baixa. Parece então que é muito simples resolver o problema do financiamento do Estado: fazer só emissões de dívida a curto prazo!

Pensemos: quem, no mundo de hoje, quer aplicações de capital a DEEEEEEEEEEEZ longos anos??? Ninguém!!!!! Quem compra a 10 anos é para a seguir vender no mercado secundário e conseguir um ganho a curto prazo. É para alimentar o processo de casino da compra e venda de títulos. Haverá umas exceções, mas isso não conta.

As dívidas a 10 anos são dos países que têm Banco Central e que das mesmas não pagam juro nenhum, como já expus em posts anteriores; aí sim, faz sentido o prazo de 10 anos – ou de 20, tanto faz. Agora, nestes países do Sul da Europa que deixaram de ter banco central para se financiarem, colocações de dívida a longo prazo não faz sentido nenhum.

Poderemos pensar: mas então o Estado teria de colocar enormes quantidades de dinheiro todos os anos. Ora claro que não, pela simples razão de que a dívida pública portuguesa é ridiculamente pequena ao pé do capital em circulação. No entanto, há que saber gerir o processo para garantir a máxima capacidade de negociação (ver comentário).



segunda-feira, janeiro 27, 2014

Uma Solução para o problema da Dívida Pública



Depois de muito pensar, creio que já ter um quadro bastante completo do processo da crise financeira, desde os erros de gestão dos países do Sul ao assalto às dívidas soberanas dos países do Euro, passando pelos interesses da política europeia. Estar a expor isso agora seria provavelmente mais longo do que a paciência dos leitores e do que a minha. O que interessa agora é encontrar uma solução, uma estratégia, para sairmos desta armadilha. Porque, como já disse, isto é uma armadilha que se iniciou no dia 1/1/2009 com o Tratado de Lisboa; todos os países do mundo, exceto os do Euro, se financiam na sua moeda própria sem juros (e muitos até sem dívida, pois o dinheiro novo entra para o orçamento do Estado e não para os bancos). Claro que nós temos um problema devido ao acumulado de uma balança externa desequilibrada e isso é uma fragilidade gravíssima; mas agora temos saldo positivo nas exportações e isso pode dar-nos capacidade negocial para sairmos desta armadilha. No entanto, nenhuma solução é possível com uma balança externa negativa; por isso, alterar a forma como importamos é indispensável para garantir qualquer possibilidade de futuro.

A solução que vou apresentar deverá parecer uma loucura, naturalmente, pois se fosse óbvia já tinha sido encontrada e já não estávamos com este problema.


As Medidas para sairmos da Crise

1º - Exigir ao BCE os lucros que está a ter com os nossos Títulos do Tesouro.

A Grécia já o fez. Como já disse, nenhum país do mundo paga juros para se financiar na sua moeda (ou paga ao seu banco central e depois recebe-os de volta como lucros deste); e o euro é a nossa moeda.

2º - Os bancos nacionais vão adquirir os Títulos do Tesouro ao juro de 1% ao ano (no mercado primário).

Os bancos nacionais estão todos a caminho da falência; os negócios em Angola serão temporários a não ser que os bancos se tornem angolanos; e os negócios em Portugal com a população a diminuir e em empobrecimento vão ser dominados pelo colapso do valor do património imobiliário da banca e pelo peso das falências e crédito mal-parado. Sem a inversão do atual quadro, os bancos não podem sobreviver.
Ora essa inversão não é possível enquanto o Estado continuar a ser alvo de especulação na dívida soberana.

Assim, os bancos pensarem que vão salvar o seu negócio com os juros que cobram pela dívida soberana é estarem a fazer haraquíri. Se ainda não perceberam isso, pensem bem no assunto.

Como o BCE não faz o que fazem os outros Bancos Centrais, e não podemos para já obrigá-lo a fazê-lo nem alterar o art.º 123 do Tratado de Lisboa, temos de arranjar outra solução; e essa solução é os bancos nacionais colocarem-se na mesma situação dos bancos dos países onde o Banco Central assume os juros das dívidas soberanas.

Para isso, o que têm a fazer é subscrever os Títulos do Tesouro cobrando apenas um spread de 0,25% sobre o valor que o BCE lhes cobra.

Isso vai libertar meia dúzia de milhares de milhões de euros nas contas do Estado anualmente. Esse valor tem de ser aplicado por forma a produzir um crescimento da Economia capaz de gerar para os Bancos mais receitas do que as que perdem nos juros da dívida soberana – que era o que acontecia antes do assalto às dívidas soberanas, que não foi um bom negócio para a Banca, foi um mau negócio devido às suas consequências no seu mercado. Um mau negócio do qual a Banca tem de livrar Urgentemente.

Claro que uma medida destas equivale a um “ O Rei vai nu”. O BCE reagirá, acusará os bancos nacionais de “cartel” e ameaçará cortar o crédito. Por isso, convém antecipar esta reação. Uma forma de o fazer é conseguir a adesão dos bancos dos países do Sul – Espanha, Itália, Grécia; eventualmente Irlanda também. Não penso que seja especialmente difícil, pois pelo menos os Gregos já mostraram a sua vontade de encontrar medidas deste género.

3ª Medidas para controlar a Balança Externa

Isto é muito importante; se não mantemos a balança externa positiva, não haverá Santo que nos valha.
Vou referir só os erros básicos que temos feito; mas há também uma panóplia de medidas pró-ativas a tomar (muitas das quais já estão em curso há vários anos, não é por milagre que as exportações cresceram)

3.1 – O Estado não paga importações com dinheiro mas com bens
Este é um procedimento standard na generalidade dos países: as importações feitas pelo Estado são pagas com contrapartidas, com produtos nacionais. Só neste país de malucos é que não é assim.

As famosas contrapartidas dos submarinos são o procedimento standard em relação a todas as compras dos Estados – mas aqui mal feitas. Cada país paga o que importa com os bens que tem – os gregos pagaram compras de equipamento eletrónico sofisticado aos alemães com fardos de feno (isto muito antes da crise; é por isso que o PIB Grego cresceu muitíssimo mais do que o nosso e os gregos têm um nível de vida mais alto do que o nosso ainda hoje, depois de tanta crise). O Sócrates tentou pagar petróleo com navios dos estaleiros de Viana, com Magalhães, com frangos. É assim que se faz. Um Estado não pode pagar em dinheiro a não ser usando o excedente da balança externa – se não há excedente, tem de recorrer a outros meios. Não vale a pena armarmos em ricos, porque não somos, somos uns pelintras.

Há muitos anos, um engenheiro alemão, ao ver como as empresas públicas importavam tudo e mais alguma coisa sem esgotar as possibilidades de fornecimento do mercado interno e pagando em dinheiro, disse-me: vocês vão afundar o vosso país e pior, vão arrastar a Europa com vocês! Ele tinha toda a razão é claro.

Isto tem de acabar já! Todas as importações das empresas públicas e do Estado têm de ser escrutinadas e esgotadas as possibilidades de estas necessidades serem satisfeitas internamente – como fazem sistematicamente os espanhóis por exemplo – e quando isso é impossível, o pagamento tem de ser conseguido por troca de bens, tanto quanto possível – temos muito vinho e água e frangos e sapatos e têxteis e Magalhães e construção naval e legumes para usar como moeda.

3.2 – As importações para o público têm de ser controladas. Todos os países o fazem, usando as respetivas ASAE, normas técnicas e mil processo para “chatear” e complicar todas as importações. E taxas! Qualquer país sem indústria automóvel põe pesadas taxas sobre eles, por exemplo. Mudar de carro de 4 em 4 anos? Está tudo maluco? Percebamos uma coisa: é preferível pagar taxas sobre as importações, sai mais barato: quanto é que vos está a custar por ano os cortes nos rendimentos? isto sem falar no desemprego e corte nos apoios sociais.

3.3 – Controlar a fuga de capitais. Há muito a dizer sobre isso. Uma regra básica é a de que nenhuma empresa é autorizada sem ter 50% de capital nacional. Outra é a de que os lucros obtidos no país pagam imposto no país – e estes lucros são determinados pelo fisco e nada de tribunais arbitrais para redimir conflitos.


Não estou a inventar nada neste ponto do controlo da balança externa – é assim que os outros países fazem. Isto e muito mais. E é assim que tem de ser feito, não o fazer é ser ignorante e tolo - e isso paga-se muito caro.


quarta-feira, janeiro 22, 2014

A Enorme Dívida do BCE a Portugal


Há uma questão básica, um princípio orientador, que tem de ser estabelecido antes de tudo o resto na organização de uma sociedade, seja ela qual for. E, claro, isto aplica-se à União Europeia.

A Democracia, por si só, sem esse princípio, conduz, como já expus em vários posts, a 1/3 de “descartados” tipicamente (no mínimo); algo altamente satisfatório para os outros 2/3 em condições de paz.

Há já muitos anos, os nórdicos perceberam que isto  não lhes servia: eram demasiadamente pequenos, inóspitas as suas condições, aflitiva a falta de recursos e muito má a vizinhança para poderem sobreviver assim. Precisavam de toda a gente. Por isso, adotaram como princípio “não deixamos ninguém na valeta”. Na Suécia e na Dinamarca não há “descartados”.

Chamo a este princípio o Princípio da Não Exclusão – PNE. Não é nada de novo, qualquer tribo funciona assim.

Não é esse porém o princípio que orienta a Europa e é por isso que Dinamarqueses e Suecos se mantêm à margem – já dizia o Rui Veloso que não se ama alguém que não ouve a mesma canção. A União Europeia, na prática, orienta-se pelo interesse da mais forte, ou seja, a Alemanha.

É o drama destas uniões; uma Democracia sem PNE gera 1/3 de descartados; mas numa união como a UE ou a URSS a coisa é muito pior, pois os destinos são, na prática, decididos pelo interesse de 2/3 da população apenas do país mais forte, tudo o resto ficando na condição de “descartável”.

Lembro-me de que há uns anos largos atrás soube-se na Dinamarca que os planos de defesa da Nato para a Europa passavam por fazer da Dinamarca “terra queimada”. Típico dos mais fortes, a primeira questão que colocam é saber quem se vai sacrificar para maximizar a vantagem do “core”. Uma solução que certamente serve os interesses da França e da Alemanha; mas para que raio quereria a Dinamarca estar na NATO se a primeira coisa que aconteceria em caso de ataque seria ser destruída??

Ora este é o problema que ensombra a União Europeia. A atual crise económica não é mais do que o resultado da ausência do PNE e, portanto, a orientação é: “queimar” a periferia para salvar o centro.
A URSS também funcionava segundo o mesmo princípio que está a ser usado na Europa; por isso a evolução da UE está a seguir o percurso da URSS. É por isso que as periferias da URSS querem fugir da Rússia o mais que puderem – tal como as periferias da UE acabarão por perceber que têm de fugir desta.

A Portugal só interessa a EU se esta for construída na base do princípio de “não deixamos ninguém para trás”; porque doutra forma, à escala da Europa, nós seremos sempre o tal 1/3 de descartados e a “terra queimada” sempre que surgir uma crise – tal como na URSS, as desvantagens serão sempre para a periferia e as vantagens para o centro.

E note-se que é esta a "narrativa" da UE, é isto que suposto acontecer; mas não é o que acontece, por isso estamos a ser enganados.

A Dinamarca percebeu o engano e reagiu e hoje certamente que os cenários de defesa militar da Europa não passam pela destruição da Dinamarca; mas talvez passem por fazer dos países do Sul zona de guerra…

Houve longas discussões para acertar a organização política da Europa, onde cada país procurou defender os seus interesses; porém, houve uma grave distração: as regras do BCE.

O BCE é o Estado-maior da política monetária da Europa; hoje, não estamos à espera de lutar com armas, mas sim com o dinheiro. É ao BCE que cabe defender-nos de um ataque económico. E qual é o princípio que orienta o BCE? Maximizar o interesse do centro sacrificando a periferia.

O Banco Central é propriedade dos Estados, dos povos, não dos banqueiros – pelo contrário, cabe-lhe a fiscalização da banca. E cabe-lhe duas outras coisas: o controlo da quantidade de dinheiro e a introdução na economia do dinheiro criado.
A primeira prioridade do Banco Central de qualquer país do Mundo é defender o Estado e nomeadamente impedir qualquer tentativa de ataque especulativo, como é óbvio (sem Estado tudo o resto colapsa); mas o BCE não, o BCE defende o Euro e defende o “centro”, ou seja, o mais forte, ou seja, a Alemanha, não este ou aquele Estado membro.

Vejamos rapidamente a situação fora da Europa

No Japão, o Estado tem uma dívida soberana enorme, cerca de 250% do seu imenso PIB; mas uma dívida financiada pelo seu Banco Central, ao qual paga juros; que depois recebe como lucros do Banco Central e assim o seu financiamento fica à taxa 0%.
Nos EUA, o Fed compra os coupons dos juros no mercado secundário e arquiva-os, tal como arquiva os ativos tóxicos da banca que compra com o dinheiro novo (o que se chama o QE, ou quantity easing). Na prática, os EUA pouco ou nada pagam em juros. Embora o processo pelo qual o Fed o faz seja um pouco confuso.
Mesmo na Europa do Euro, a Alemanha financia-se nos “mercados” a uma taxa de juro perto de 0%. E ainda recebe os lucros do BCE – nomeadamente os que o BCE obtém com a especulação que a Banca faz sobre as dívidas dos países periféricos.

No Mundo, os Estados apenas precisam, na prática, de suportar juros quando precisam de moeda estrangeira, não para se financiarem na sua própria moeda – exceto os países do Euro

Para o BCE, se um país periférico falir mas a Alemanha beneficiar, isso é uma coisa boa, o balanço é positivo. Por isso é que face ao ataque especulativo de um conjunto de bancos às dívidas soberanas, a preocupação do BCE não foi fazer-lhe frente mas aproveitar-se disso – encarou-o como um bom processo para os bancos resolverem o seu enorme buraco e ajudou-os no processo especulativo. Claro que se o ataque especulativo atingisse a Alemanha, logo o BCE interviria forte e feio; e porque sabem isso, os banqueiros atacam os países periféricos e adulam a Alemanha.

A subida dos juros das dívidas dos países periféricos é a consequência necessária, óbvia, fatal, da entrada em vigor do Tratado de Lisboa em 1 de Dezembro de 2009 (por isso é que os juros disparam em 2010). Pelo seu art.º 123, este tratado assegura aos banqueiros que o BCE não intervirá na defesa destes países.

Reparem no seguinte: quando as empresas que existem num sector de atividade não variam muito, os empresários conhecem-se; ora os empresários não são loucos, por isso naturalmente não andam a fazer guerra uns aos outros, é muito melhor viverem em paz. Então, o preço do produto ou serviço é o que maximiza o lucro da atividade. E nem precisam de combinar nada, todos sabem que isso é o que lhes convém. Se algum se armar em esperto e baixar margens, os outros caem-lhe em cima. Eu sei, já fui empresário, conheço o código.

O caso dos combustíveis é claríssimo: o preço da gasolina é o que maximiza o lucro das petrolíferas; se subir uns cêntimos, o consumo desce e com ele os lucros. Isso é assim porque as pessoas têm alternativas: transportes coletivos, partilha de carros, opção por carros mais económicos, etc. Não são muitas, mas são algumas. O argumento do preço do crude é apenas a narrativa para esconder a realidade.
O mesmo acontece com a energia.

O controlo dos preços nestas circunstâncias não se faz pela concorrência, que não existe, mas pela existência de alternativas doutro tipo do lado do consumirdor.

Ora no caso do financiamento dos Estados, o que mantém os juros controlados é a possibilidade de intervenção do Banco Central e a capacidade dos Estados de pressionarem os bancos, porque há sempre grandes interesses cruzados entre Estado e bancos. Como o BCE, ao contrário de qualquer banco central, não defende os Estados da periferia, estes ficaram na mão dos Bancos.

A “confiança dos mercados” é a “narrativa” neste caso. Os mercados não correm riscos, o que determina o juro é a capacidade negocial e o interesse da banca - os ratings etc servem para medir essa capacidade negocial, a capacidade de um país dizer "não". Nesta altura, como se avizinham eleições europeias, convém descer os juros para garantir que tudo fica na mesma – a seguir às eleições, os juros voltarão a subir se os políticos forem da mesma linha.

Eu sei que os banqueiros sabiam muito bem as consequências do Tratado de Lisboa porque fui convidado a fazer parte do ataque especulativo. A crise não é a causa deste processo, ao contrário, a crise é o que veio atrapalhar o processo de assalto especulativo porque de repente os países não ficaram em condições de aguentar o assalto. É por isso que o BCP teve um enorme problema com a dívida pública grega – o BCP estava em grande neste assalto às dívidas públicas dos países do Sul e de repente ficou entalado com a possibilidade (imprevista) de falência grega.

Os juros que estamos a pagar são indevidos. Como já disse, no mundo, os países só pagam juros dos empréstimos de divisas, não da sua moeda; por isso é que a receita do FMI é a que é, porque para estes países a receita é deixar de comprar divisas, cortar as importações. Aqui, a aplicação da mesma receita não faz diminuir apenas as divisas mas todo o dinheiro e assim colapsa o mercado interno.

Portanto, estamos a ser vítimas de um assalto especulativo dos bancos e do compadrio do BCE no processo, baseado na ideia de que este processo é bom para a Alemanha e para o Euro. E é, a curto prazo - explorar uma parte da população traz sempre vantagens, no curto prazo, para a restante população.
Ora isto não nos interessa. Ou a Europa adota realmente o princípio de que ninguém fica para trás, ou então temos de sair dela, porque ela vai escravizar-nos. E se adota esse princípio, então deve-nos os juros que estamos a pagar.

É isto que temos de exigir:

1 -ser ressarcidos dos juros que temos estado a pagar PORQUE SÃO devidoS ao facto do BCE ter permitido (apoiado) o assalto especulativo às dívidas soberanas;

2 - modificação do processo de financiamento dos Estados para os colocar ao abrigo de assaltos especulativos.

Estamos a regredir 10 anos por cada ano, e em pouco tempo estaremos pior do que antes do Salazar. Ou obtemos isto ou saímos do Euro. E entramos numa união dos países da periferia ou outra em que o PNE vigore realmente. Uma união de cooperação e não de competição.


No próximo post apresento uma proposta de método de financiamento dos Estados europeus que assegure iguais e sustentáveis condições de financiamento para todos; a seguir vou mostrar como é que os banqueiros criaram a crise financeira – o processo da pirâmide usado pelo Maddof e pela D. Branca é para amadores; eles têm outro, fraudulento, muito melhor e muito antigo também; depois vou mostrar como os bancos ganham sempre, mas sempre, na bolsa, sem qualquer risco ou acaso; e por último vou mostrar como os bancos ganham rios de dinheiro com as dívidas soberanas.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

O Dia em que acabou a Crise




Recebi isto por email... já todos sabemos que é assim, mas para o caso de haver alguns distraídos..

trata-se de uma artigo escrito e publicado já em meados do corrente ano, mas que mantém toda a sua atualidade (ou terá mesmo mais), toda a sua perspicácia e toda a sua objetividade. Não deixem de ler.


Título:- O Dia em que acabou a crise.

Subtítulo:- 
Quando terminar a recessão teremos perdido 30 anos de direitos e salários.

Um dia no ano 2014 vamos acordar e vão anunciar-nos que a crise terminou. Correrão rios de tinta escrita com as nossas dores, celebrarão o fim do pesadelo, vão fazer-nos crer que o perigo passou embora nos advirtam que continua a haver sintomas de debilidade e que é necessário ser muito prudente para evitar recaídas. Conseguirão que respiremos aliviados, que celebremos o acontecimento, que dispamos a atitude critica contra os poderes e prometerão que, pouco a pouco, a tranquilidade voltará à nossas vidas.

Um dia no ano 2014, a crise terminará oficialmente e ficaremos com cara de tolos agradecidos, darão por boas as politicas de ajuste e voltarão a dar corda ao carrocel da economia. Obviamente a crise ecológica, a crise da distribuição desigual, a crise da impossibilidade de crescimento infinito permanecerá intacta mas essa ameaça nunca foi publicada nem difundida e os que de verdade dominam o mundo terão posto um ponto final a esta crise fraudulenta (metade realidade, metade ficção), cuja origem é difícil de decifrar mas cujos objetivos foram claros e contundentes
Fazer-nos retroceder 30 anos em direitos e em salários

Um dia no ano 2014, quando os salários tiverem descido a níveis terceiro-mundistas; quando o trabalho for tão barato que deixe de ser o fator determinante do produto; quando tiverem feito ajoelhar todas as profissões para que os seus saberes caibam numa folha de pagamento miserável; quando tiverem amestrado a juventude na arte de trabalhar quase de graça; quando dispuserem de uma reserva de uns milhões de pessoas desempregadas dispostas a ser polivalentes, descartáveis e maleáveis para fugir ao inferno do desesperoentão a crise terá terminado.

Um dia do ano 2014quando os alunos chegarem às aulas e se tenha conseguido expulsar do sistema educativo 30% dos estudantes sem deixar rastro visível da façanha; quando a saúde se compre e não se ofereça; quando o estado da nossa saúde se pareça com o da nossa conta bancária; quando nos cobrarem por cada serviço, por cada direito, por cada benefício; quando as pensões forem tardias e raquíticas; quando nos convençam que necessitamos de seguros privados para garantir as nossas vidasentão terá acabado a crise.

Um dia do ano 2014quando tiverem conseguido nivelar por baixo todos e toda a estrutura social (exceto a cúpula posta cuidadosamente a salvo em cada sector), pisemos os charcos da escassez ou sintamos o respirar do medo nas nossas costas; quando nos tivermos cansado de nos confrontarmos uns aos outros e se tenham destruído todas as pontes de solidariedade. Então anunciarão que a crise terminou.

Nunca em tão pouco tempo se conseguiu tanto. Somente cinco anos bastaram para reduzir a cinzas direitos que demoraram séculos a ser conquistados e a estenderem-se. Uma devastação tão brutal da paisagem social só se tinha conseguido na Europa através da guerra.
Ainda que, pensando bem, também neste caso foi o inimigo que ditou as regras, a duração dos combates, a estratégia a seguir e as condições do armistício.

Por isso, não só me preocupa quando sairemos da crise, mas como sairemos dela. O seu grande triunfo será não só fazer-nos mais pobres e desiguais, mas também mais cobardes e resignados já que sem estes últimos ingredientes o terreno que tão facilmente ganharam entraria novamente em disputa.

Neste momento puseram o relógio da história a andar para trás e ganharam 30 anos para os seus interesses. Agora faltam os últimos retoques ao novo marco social:Um pouco mais de privatizações por aqui, um pouco menos de gasto público por ali e“voila”: A sua obra estará concluída.

Quando o calendário marque um qualquer dia do ano 2014, mas as nossas vidas tiverem retrocedido até finais dos anos setenta, decretarão o fim da crise e escutaremos na rádio as condições da nossa rendição.

(***) -Concha Caballero
 é licenciada em Filologia Espanhola e professora de literatura num instituto público.

Abandonou a politica dececionada com a coligação eleitoral do seu partido.

Há anos que passou do exercício da politica ativa para analista e articulista, social e politica, de vários meios de comunicação, com destaque para o EL PAÍS.

É uma amante da literatura e firmemente humana com as questões sociais.

Clique no link abaixo e leia o artigo Original em Castelhano

domingo, dezembro 15, 2013

Os outros que paguem a crise



Os políticos do norte da Europa estão a ficar seriamente preocupados com o evoluir da situação, pois as eleições estão a aproximar-se aqui e ali e as populações estão altissimamente insatisfeitas; eles sabem que ou mudam rapidamente de políticas ou vão ficar fora do poder para o resto das suas vidas. (bemm... a não ser que consigam convencer o Zé que afinal está tudo muito bem... eles bem tentam... dizem que foram criadas muitas empresas mas não dizem que são empresas dos médicos que se reformaram antecipadamente para assim poderem continuar a trabalhar acumulando com a reforma... dizem que aumentou a venda dos carros mas não dizem que isso se deveu maioritariamente ao fato de os revendedores de automóveis estarem a vender muito para Angola... dizem que baixaram os inscritos nos centros de emprego mas não dizem que às pessoas com mais de 45 anos lhes é dito: "quer inscrever-se para quê? para as estatísticas?" e esquecem a verdadeira debandada de portugueses para o estrangeiro... enfim... nesta altura o Zé já devia saber que eles nunca, mas nunca, falam verdade).

Sucedem-se os discursos e as iniciativas; até a Grécia já bate o pé à troika. Os ventos de mudança sopram com força crescente. Bruxelas decidiu começar a investigar, a denunciar as manobras dos Bancos e propõe-se agora impor um corte nos lucros obscenos da Banca cortando os custos dos terminais de pagamento para ¼.

Foi uma excelente ideia de Bruxelas porque os banqueiros e os que os suportam deixaram logo cair a máscara. O douto conselheiro do PR Vitor Bento veio logo a terreiro afirmar que alguém iria pagar mas não eles. Os 100 milhões de lucros anuais que o sistema dá são intocáveis, no dinheiro deles não se toca. Nem neste nem no das PPP nem no das SWAPS nem em nada.

É assim: eles, que têm vivido à grande, muitíssimo acima das suas possibilidades e méritos, que nadam em dinheiro em contas em offshores, dinheiro obtido de formas ilícitas e até criminosas, e que geraram a enorme quantidade de “ativos” que nada valem e que são a causa desta crise, eles, os culpados, querem que sejamos nós a pagar o prejuízo, e não querem contribuir com um tostão que seja.

Nada de novo: eles enriqueceram roubando e é isso que continuam a fazer. É só o que sabem fazer. Por dinheiro, são como macaco por banana.

Como é que podemos acreditar que o Vitor Bento, conselheiro do PR, o aconselhe a defender os nossos interesses se a prioridade dele são os interesses opostos aos nossos? E para que quereria o PR alguém que o aconselhasse a defender os nossos interesses se ele sempre se preocupou foi com os interesses dele? (se não fosse assim não teria comprado ações do BPN nem teria a casa da Coelha nem estaria rodeado dos amigos que lhe conhecemos).

Para aqueles que, por comodidade, insistem em continuar a pensar que estes governantes governam para nós, aqui fica mais uma evidência gritante dos interesses que defendem. Não se iludam – eles, por dinheiro, são como macacos por banana. Os macacos estão no Poder.

Mas alegrem-se e festejem a saída deste ano – porque os ventos da mudança estão aí. Soprem com eles 

quarta-feira, novembro 27, 2013

O nó do problema


O Japão tem uma dívida pública imensa – 245% do PIB. Desde que me lembro (há seguramente mais de 30 anos) que oiço dizer que o Japão está no caos económico; está bom de ver que é assim… tanto é que agora anunciou que vai aumentar o IVA de … 5 para 8%!!!!! Isto porque o Japão, coitado, tem de fazer face a uma população envelhecida – tem a maior expectativa de vida do mundo e uma pirâmide etária invertida! (e ainda se orgulham disso… porque será?). Este aumento do IVA destina-se também a alimentar um programa de controlo da dívida pública, o “Abenomics”, que consiste em… maciço aumento do dinheiro novo impresso pelo banco central, enorme investimento público em infraestruturas e desvalorização do yen. Exatamente o que se faz por cá, não é verdade? Em resultado destas medidas estupidas como qualquer economista ao serviço deste governo bem sabe, a taxa de desemprego já passou de 4% para…. 3,7%!

Portanto, o Japão tem uma dívida pública estratosférica, de 245% do PIB, (e que PIB), uma população envelhecida com alto nível de vida e um desemprego baixíssimo, o que significa altos salários. Só pode ser estar num caos, não é? Assim não capta o imprescindível investimento estrangeiro sem o qual nenhum país se pode desenvolver, não é? O Japão é o oposto do que os economistas que por cá falam defendem; tem de estar um caos! Então porque é que não está?

Mas, perguntará o leitor, essa dívida não é um encargo enorme no orçamento japonês? Pois é; mas também é uma enorme fonte de entrada de receitas. Porque quem empresta ao governo japonês é o Banco Central do Japão, que é do Estado; e os lucros deste empréstimo, ou seja, os juros pagos pelo Governo, voltam para o Estado! E isto é mais ou menos assim na Inglaterra e nos EUA, com mais ou menos sofisticação.

Vejamos agora o que se passa com o BCE: o BCE é propriedade dos estados membros na proporção das suas economias; o BCE compra dívidas soberanas dos países do Sul no mercado secundário, com altas taxas de juro. Os lucros desta operação são depois distribuídos proporcionalmente à participação dos países no BCE – ou seja, a maioria dos lucros do BCE vai para a Alemanha e uma boa fatia para a França.

Percebamos isto: o BCE empresta aos bancos a 0.25%. Porque é que o juro é tão baixo para os bancos? Porque os bancos são garantidos pelos Estados! Porque é que as dívidas soberanas dispararam? Porque os Estados têm estado a meter dinheiro na banca! Ou seja, o problema de insustentabilidade da banca foi transferido para os Estados. Isso é um problema? No Japão, nos EUA e na Inglaterra não é, porque os bancos centrais, direta ou indiretamente, é que suportam as dívidas soberanas e portanto os lucros dos seus juros retornam para os Estados. Na prática, os Estados financiam-se à taxa 0%, como é lógico – por isso é que nesses países seria uma solução transferir a insustentabilidade dos bancos para o Estado. Seria mas não é – o Fed e o Banco Central do Japão têm um programa de compra maciça dos ativos tóxicos dos bancos, eles assumem diretamente a insustentabilidade da banca.

Só que na Europa os lucros do BCE vão para a França e a Alemanha! É isso que torna a nossa dívida insustentável, uma corda na garganta, a drenagem dos nossos recursos e futuro.

Percebamos: nos outros países, a insustentabilidade do sector financeiro é aguentada pelo Banco Central, que compra os ativos tóxicos, e a dívida soberana financiada pelo Banco Central (direta ou indiretamente), a uma taxa de juro que na prática é zero. Em Portugal, a insustentabilidade da banca foi transferida para o Estado, com o BCE a fazer exigências ao Estado em vez de assumir ele o problema, e o financiamento do Estado ainda serve para o BCE obter lucros, que vão para a Alemanha e a França.

A Grécia já exigiu que o BCE lhe pague os lucros que tem tido com a sua dívida. Nós recebemos apenas o que o BP decide dar ao Estado (trocos), sem prestar contas de coisa nenhuma, protegido por um conselho de auditoria que não presta contas ao Governo; as contas do BP são secretas (não há um hacker que as ponha cá fora?).


Como é evidente, estamos a funcionar em regras suicidárias. Isto é tão absurdo que a maior parte das pessoas comuns se recusa a acreditar que seja mesmo assim. Como é que diabo nos metemos nisto? Foi malandrice da Alemanha, a grande beneficiária de tudo isto? Nada disso, os culpados são outros, como veremos. E ao percebermos quem é culpado, percebemos também como podemos alterar esta situação.