quarta-feira, novembro 27, 2013
O nó do problema
O Japão tem uma dívida pública imensa – 245% do PIB. Desde
que me lembro (há seguramente mais de 30 anos) que oiço dizer que o Japão está
no caos económico; está bom de ver que é assim… tanto é que agora anunciou que
vai aumentar o IVA de … 5 para 8%!!!!! Isto porque o Japão, coitado, tem de
fazer face a uma população envelhecida – tem a maior expectativa de vida do
mundo e uma pirâmide etária invertida! (e ainda se orgulham disso… porque
será?). Este aumento do IVA destina-se também a alimentar um programa de
controlo da dívida pública, o “Abenomics”, que consiste em… maciço aumento do
dinheiro novo impresso pelo banco central, enorme investimento público em
infraestruturas e desvalorização do yen. Exatamente o que se faz por cá, não é
verdade? Em resultado destas medidas estupidas como qualquer economista ao
serviço deste governo bem sabe, a taxa de desemprego já passou de 4% para….
3,7%!
Portanto, o Japão tem uma dívida pública estratosférica, de
245% do PIB, (e que PIB), uma população envelhecida com alto nível de vida e um
desemprego baixíssimo, o que significa altos salários. Só pode ser estar num
caos, não é? Assim não capta o imprescindível investimento estrangeiro sem o
qual nenhum país se pode desenvolver, não é? O Japão é o oposto do que os
economistas que por cá falam defendem; tem de estar um caos! Então porque é que
não está?
Mas, perguntará o leitor, essa dívida não é um encargo
enorme no orçamento japonês? Pois é; mas também é uma enorme fonte de entrada
de receitas. Porque quem empresta ao governo japonês é o Banco Central do
Japão, que é do Estado; e os lucros deste empréstimo, ou seja, os juros pagos
pelo Governo, voltam para o Estado! E isto é mais ou menos assim na Inglaterra
e nos EUA, com mais ou menos sofisticação.
Vejamos agora o que se passa com o BCE: o BCE é propriedade
dos estados membros na proporção das suas economias; o BCE compra dívidas soberanas
dos países do Sul no mercado secundário, com altas taxas de juro. Os lucros
desta operação são depois distribuídos proporcionalmente à participação dos
países no BCE – ou seja, a maioria dos lucros do BCE vai para a Alemanha e uma boa fatia para a
França.
Percebamos isto: o BCE empresta aos bancos a 0.25%. Porque é
que o juro é tão baixo para os bancos? Porque os bancos são garantidos pelos
Estados! Porque é que as dívidas soberanas dispararam? Porque os Estados têm
estado a meter dinheiro na banca! Ou seja, o problema de insustentabilidade da
banca foi transferido para os Estados. Isso é um problema? No Japão, nos EUA e
na Inglaterra não é, porque os bancos centrais, direta ou indiretamente, é que
suportam as dívidas soberanas e portanto os lucros dos seus juros retornam para
os Estados. Na prática, os Estados financiam-se à taxa 0%, como é lógico – por
isso é que nesses países seria uma solução transferir a insustentabilidade dos
bancos para o Estado. Seria mas não é – o Fed e o Banco Central do Japão têm um
programa de compra maciça dos ativos tóxicos dos bancos, eles assumem diretamente
a insustentabilidade da banca.
Só que na Europa os lucros do BCE vão para a França e a
Alemanha! É isso que torna a nossa dívida insustentável, uma corda na garganta,
a drenagem dos nossos recursos e futuro.
Percebamos: nos outros países, a insustentabilidade do
sector financeiro é aguentada pelo Banco Central, que compra os ativos tóxicos,
e a dívida soberana financiada pelo Banco Central (direta ou indiretamente), a
uma taxa de juro que na prática é zero. Em Portugal, a insustentabilidade da
banca foi transferida para o Estado, com o BCE a fazer exigências ao Estado em
vez de assumir ele o problema, e o financiamento do Estado ainda serve para o
BCE obter lucros, que vão para a Alemanha e a França.
A Grécia já exigiu que o BCE lhe pague os lucros que tem
tido com a sua dívida. Nós recebemos apenas o que o BP decide dar ao Estado
(trocos), sem prestar contas de coisa nenhuma, protegido por um conselho de
auditoria que não presta contas ao Governo; as contas do BP são secretas (não
há um hacker que as ponha cá fora?).
Como é evidente, estamos a funcionar em regras suicidárias. Isto
é tão absurdo que a maior parte das pessoas comuns se recusa a acreditar que
seja mesmo assim. Como é que diabo nos metemos nisto? Foi malandrice da
Alemanha, a grande beneficiária de tudo isto? Nada disso, os culpados são
outros, como veremos. E ao percebermos quem é culpado, percebemos também como
podemos alterar esta situação.
quarta-feira, novembro 20, 2013
O "Milagre" Irlandês
Vamos lá a ver a Verdade
sobre a Irlanda
Nesta interessante página
do Google podemos ver como tem variado a dívida pública irlandesa. Surpresa! Em
2007 era de apenas 24,9% do PIB! Uma dívida sem expressão. Mínima! E em 2012,
depois desta fantástica intervenção da Troika? 117, 4%!!! Aumentou 4,7 vezes.
Agora reparem. Afirmam os
“sábios” que a Irlanda está numa situação ótima, pois os juros da dívida
pública caíram para os 3,5%; ora bem, se abrirem a máquina de calcular e
multiplicarem pelo aumento da dívida (4,7) concluirão que o encargo da dívida
irlandesa será agora o mesmo que tinham em 2007 se estivessem a pagar juros de
16,5%!!!! (este lindo resultado foi conseguido em cima de sacrifícios
pesadíssimos do povo irlandês, enquanto os ricos enriqueciam em toda a Europa;
os irlandeses foram roubados no presente e continuarão a ser roubados no futuro).
Estão a ver como a banca
consegue enriquecer facilmente? O montante da dívida é irrelevante para a banca
(o dinheiro que emprestam nem chega a sair). Os juros é que são o ganho dos
bancos! Esta “bem sucedida” operação teve como resultado aumentar enormemente
aquilo que o povo irlandês vai passar a pagar à banca, sem que disso tenha tido
qualquer benefício.
Porque reparem: quando se
contrai uma dívida para fazer um investimento, há um retorno. Quando uma empresa
pede um empréstimo, não é para comprometer o seu futuro, é para o assegurar. Um
Estado, tal como uma empresa, tem de investir e deve usar para isso mais
dinheiro do que o que tem, pois esse investimento pagará o custo desse
empréstimo com lucro. Se o Estado não investir, acontece-lhe o mesmo que às
empresas que o não fazem: não crescem e desaparecem. Vivemos num mundo em
competição, quem não se esforça por ir para a frente vai ser eliminado. É por
isso que todos os países têm dívidas públicas (a da Alemanha era muito maior do
que a da Irlanda quando isto começou, e continua a crescer apesar de todos os
seus “superavit”).
Mas aqui acontece que a
Irlanda não contraiu esta fabulosa dívida para investir! Não há retorno! Contraiu dívida para emprestar aos
bancos para estes lhe emprestarem a ela…Confusos? Não admira, estamos perante o
maior esbulho da história…
Contrariamente ao que
dizem esses economistas e políticos da linha do governo, o que compromete o
futuro das próximas geração é esta dívida contraída agora, não é a dívida que
existia antes de 2008 – essa era para assegurar o futuro, não para o
comprometer.
Em resumo, o que
aconteceu à Irlanda é que ficou com um enorme encargo bancário que não
corresponde a nenhum dívida para investimento que tenha contraído. Esta
situação impede que ela possa continuar a investir. É um país condenado.
Veem como temos sido
enganados? Como estamos todos a ser roubados? Veem como o futuro dos nossos filhos
foi roubado com a nossa complacência? Como as frases feitas que nos repetem são
mentiras descaradas, construídas de propósito para conseguir a nossa anuência
ao roubo? Para nos tornar cúmplices do roubo do Futuro?
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